EM BRASÍLIA, NOVO PARTIDO CHEGA COM TREJEITOS DA VELHA POLÍTICA
Por João Moura*
Com
um olho no peixe e outro no gato, o PRD-DF quer – além de ser conhecido como
Partido da Renovação Democrática -, encontrar um bom termo para propor uma
alternativa política para a capital da República sem precisar pedir benção ao
governador Ibaneis Rocha.
A
proposta é desafiadora diante do fato de que sua origem se confunde com o
objetivo de sua própria existência – que é a mesma de todas as outras
agremiações partidárias existentes no país: recursos do Fundo Partidário e
tempo de rádio e televisão para garantir musculatura política local e nacional.
Na
última semana, políticos sem mandato, deputados distritais eleitos (mas sem
partido), ex – parlamentares e até a vice-governadora Celina Leão uniram forças
para assumir o comando da legenda. A disputa foi intensa, a movimentação
começou desde a última eleição e culminou, em novembro de 2023, com a fusão do
PTB com o Patriota. Surgiu daí o PRD, antes pensado, de acordo com seu
estatuto, como partido ‘Mais Brasil’. O número é o 25, herdado do falecido DEM,
integrando mais uma salada partidária.
Para
dar a musculatura política, o PRD tem o deputado distrital Rogério Morro da
Cruz, atualmente sem partido, mas que foi eleito pelo falecido PMN. Ele é a
principal estrela da legenda. Entre suas bandeiras destacam-se prioridades para
o seu mandato na Câmara Legislativa, como a regularização fundiária. Rogério
quer fazer um mandato que não fique só no discurso, mas na prática. Para isso,
ele criou na Câmara Legislativa a Frente Parlamentar da Regularização Fundiária
Urbana e Rural. O presidente, claro, é o próprio Morro da Cruz. Seu tipo é meio
camaleão. Da base governista de Ibaneis, nem por isso deixa de ser pupilo
futurista de candidatos a substituir o atual ocupante da cadeira do Palácio do
Buriti.
Um
fato, antes dos novos tempos, é que nas eleições gerais de 2022, 16 partidos
não alcançaram a meta da barreira fixada pela legislação eleitoral – 7 partidos
até conseguiram eleger deputados federais. Mas o número não foi suficiente para
alcançar o critério de desempenho fixado pela legislação.
Os
partidos políticos que não conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira em
2022 são Avante, PSC, Solidariedade, Patriota, PTB, Novo e Pros. Outras
legendas partidárias como Agir, DC, PCB, PCO, PMB, PMN, PRTB, PSTU e UP sequer
tiveram parlamentares eleitos.
O
PRD, já foi dito, é fruto da fusão do PTB e Patriotas. Os dois partidos não
atingiram a cláusula de desempenho nas eleições de 2022, mas boa parte de sua
executiva provisória, na capital, é oriunda do PMN, que no pleito passado
garantiu a vaga de Rogério Morro da Cruz.
Dos
28 partidos e federações que disputaram o último pleito, apenas 12 conseguiram
alcançar a cláusula de desempenho fixada pela Emenda Constitucional 97, de
2017. Nos próximos quatro anos, somente essas 12 legendas – o grande objetivo
dos caciques das legendas é esse, e não mais nenhum outro – vão poder receber
dinheiro do Fundo Partidário e usar o tempo de propaganda gratuita de rádio e
televisão.
De
acordo com a Emenda Constitucional 97, só podem ter acesso aos recursos do
Fundo Partidário e à propaganda gratuita no rádio e na televisão os partidos
políticos que alcançarem um dos seguintes critérios de desempenho:
–
Eleição de pelo menos 11 deputados federais, distribuídos em pelo menos 9
unidades da Federação; ou
–
Obtenção de, no mínimo, 2% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos
Deputados, distribuídos em pelo menos 9 unidades da Federação, com um mínimo de
1% dos votos válidos em cada um deles.
A
cláusula de desempenho passou a ser aplicada a partir das eleições gerais de
2018 e será reajustada de forma escalonada em todos os pleitos federais até
atingir o ápice nas eleições gerais de 2030. Na ocasião, só terão direito a
recursos do Fundo Partidário e ao tempo de rádio e televisão os partidos
políticos que:
–
Elejam pelo menos 15 deputados federais, distribuídos em pelo menos um terço
das unidades da Federação; ou
–
Obtenham, nas eleições para a Câmara dos Deputados, no mínimo 3% dos votos
válidos, distribuídos em pelo menos um terço das unidades da Federação, com um
mínimo de 2% dos votos válidos em cada uma delas.
Os
16 partidos que não atingiram a cláusula de barreira continuam a existir,
embora não recebam mais suporte financeiro de origem pública desde fevereiro de
2023. Para evitar essa restrição, esses partidos usufruem de algumas
alternativas, como recorrer a fusão, incorporação ou federação com legendas que
obtiveram melhor desempenho nas urnas – e foi isso que o PTB e o Patriota
fizeram para criar o PRD.
No
Distrito Federal, o deputado distrital Morro da Cruz, eleito pelo PMN,
conseguiu o direito de desfiliação pelo fato desse partido não ter atingido a
cláusula de barreira. Agora, em festa na capital, Rogério é a nova estrela
política do PRD e já tem uma barreira a vencer, que é a meta da executiva da
legenda, ou seja, a de propor uma alternativa política para o Distrito Federal
sem precisar pedir benção a Ibaneis Rocha ou quem vier a sucedê-lo.
O
fato é que, sem dinheiro, sem recursos do Fundo Partidário, sem tempo de rádio
e televisão; dificilmente se ganha uma eleição. Seja ela para que cargo for. E
como política é como nuvem, que muda a cada instante, quem viver, verá.
*João
Moura é observador da anatomia de governos e sociedade.